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Travessão também é questão de estilo?

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Como todo sinal de pontuação, o travessão também tem regras para ser usado. Conhecê-las é necessário para realizar uma escrita correta e, consequentemente, facilitar a compreensão da mensagem que é transmitida ao leitor. 

Como explica o professor e fundador do Clube do Português, Pedro Valadares, a escrita é um processo interativo. “Escrever bem é, antes de tudo, ser compreendido.” Para isso, ele destaca que a forma e o conteúdo devem caminhar juntos. “Além de o texto estar gramaticalmente correto, ele deve ser coerente para o público para o qual se destina.”

Os sinais de pontuação são fundamentais para uma boa escrita, responsáveis por reproduzir as emoções e as intenções do escritor. Eles marcam as pausas, os diálogos, as entonações, os trechos que devem ser enfatizados, dentre outros comportamentos a serem assimilados pelo leitor. “São pistas textuais que tornam o texto compreensível, coeso e coerente”, define Valadares. 

Dessa forma, o escritor deve estar atento sobre quando usar o travessão e os demais sinais. “Caso contrário, ele corre o risco de produzir uma mensagem truncada ou ambígua e, consequentemente, de ser mal compreendido”, alerta o professor.

Regras para usar o travessão

O travessão pode ser usado para marcar o discurso direto, isto é, quando o diálogo dos personagens é reproduzido. Neste caso, ele é aplicado na abertura de cada fala. Outra forma de utilizá-lo é para destacar uma parte específica do texto com o intuito de enfatizar a informação ao leitor. 

No trecho do livro Dom Casmurro, clássico de Machado de Assis, em que o protagonista Bentinho conversa com José Dias sobre não querer ir ao seminário, o autor emprega o travessão nas duas formas:

Pela cara de José Dias passou algo parecido com o reflexo de uma ideia, — uma ideia que o alegrou extraordinariamente. Calou-se alguns instantes; eu tinha os olhos nele, ele voltara os seus para o lado da barra. Como insistisse:

— É tarde, disse ele; mas, para lhe provar que não há falta de vontade, irei falar a sua mãe. Não prometo vencer, mas lutar; trabalharei com alma. Deveras, não quer ser padre? As leis são belas, meu querido… Pode ir a São Paulo, a Pernambuco, ou ainda mais longe. Há boas universidades por esse mundo fora. Vá para as leis, se tal é a sua vocação. Vou falar a D. Glória, mas não conte só comigo; fale também a seu tio.

— Hei de falar.
— Pegue-se também com Deus, — com Deus e a Virgem Santíssima, concluiu apontando para o céu.

No primeiro uso do travessão, o autor destaca qual foi a percepção de Bentinho sobre a reação alegre de José Dias com a sua própria ideia. Em seguida, o sinal é usado para marcar o diálogo entre os personagens, apresentando a fala de cada um. 

Por fim, novamente, o travessão é inserido como um recurso de ênfase. Quando o personagem conclui, dizendo que, além de Deus, seria preciso também pedir ajuda à Virgem Santíssima, deixando claro que a situação era de dificuldade.

“O travessão funciona bem como recurso estilístico, principalmente no caso das expressões e frases intercaladas. Nessas situações, ele pode ser utilizado no lugar da vírgula para dar mais destaque e chamar atenção para a informação”, esclarece Valadares.

Para o professor, ter o domínio das regras e da estrutura da língua portuguesa exige repertório, amplo conhecimento gramatical e experiência. “O primeiro vem principalmente da leitura de boas obras. O segundo do estudo sistemático das regras gramaticais e da resolução de questões. Já o terceiro é fruto da prática periódica e recorrente da escrita.”

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